A avaliação externa sob olhar de três especialistas

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Especialistas trazem importância de combinar avaliação externa, interna e nacional para o bom desenvolvimento da escola.

O InfoGeekie convidaou dois especialistas para conversar sobre o que eles consideram ser o papel de uma boa avaliação externa, como gestores(as) podem aprender com elas para melhorar seus resultados e quais as tendências para a avaliação com a democratização da tecnologia. Também trouxemos Camila Karino, diretora de avaliação da Geekie, para enriquecer a discussão.

Especialistas em avaliação

O professor doutor Alexandre Ventura, é pesquisador na Universidade Católica de Brasília e na Universidade de Aveiro, em Portugal. Também em Portugal, já exerceu o cargo de presidente do Conselho Científico para a Avaliação de Professores e Vice-Ministro da Educação.

Nosso segundo convidado é o professor Casemiro Campos, doutor e mestre em Educação e pesquisador nas áreas de formação de professor, currículo e avaliação.

Qual o papel de uma boa avaliação externa?

Camila Karino: O objetivo da avaliação externa é gerar informações que auxiliem no monitoramento do rendimento escolar e na definição de políticas em prol da garantia de uma educação de qualidade. Para tanto, a avaliação externa precisa ter métricas padronizadas, que permita a imparcialidade e a análise das escolas de acordo com os mesmos critérios. Numa visão mais ampla, a avaliação externa mostra para a escola e para os(as) gestores(as) se eles estão sendo capazes de garantir o direito de aprender. Além das informações de desempenho acadêmico, a avaliação externa permite que as escolas se comparem com escolas semelhantes, o que permite verificar se elas ainda podem fazer mais e como”.

Casemiro Campos: A avaliação é como uma fotografia, nos mostra uma situação que é passível de mudança. Daí a riqueza da avaliação que permite olhar a caminhada realizada e rever os objetivos. Se os objetivos foram atingidos, deve-se refletir como podem ser renovados e, quando ainda não se atingiu, deve-se analisar o que houve e retomar as estratégias para chegar aos objetivos pactuados. A avaliação externa não deve servir para premiar ou punir a escola, mas contribuir para que o sistema tenha melhores resultados, observando a aprendizagem dos alunos, o desempenho dos(as) professores(as) e até observar a produtividade do sistema e qualidade dos investimentos”. 

Alexandre Ventura: A escola que não se avalia ou que desenvolve apenas a sua auto-avaliação, está alheia ao real ou enganada por uma auto-imagem que, por mais valor e qualidade que tenha, carece sempre de ser comparada com um olhar externo. As avaliações externas permitem contrastar olhares, perspectivas, interpretações, soluções e avaliações”.

Como a escola pode optar por avaliações internas, externas ou nacionais?

Alexandre Ventura: “Considero que a escola deverá envolver-se nessas três frentes. Elas não se excluem; pelo contrário, complementam-se. As avaliações nacionais são obrigatórias e interessa à escola apresentar o melhor resultado possível. No entanto, não é suficiente. O ranking apresenta apenas um vislumbre da realidade e tende a tratar os(as) professores(as) como objetos, não como protagonistas da avaliação”.

Camila Karino: “A dificuldade de se utilizar somente as avaliações realizadas pelo governo é que elas ocorrem somente no finais de etapa, com finalidade somativa. Além disso, as escolas privadas ainda enfrentam a dificuldade de não estarem incluídas em várias das avaliações. Já uma avaliação externa permite à escola se autoavaliar e tem um caráter diagnóstico e formativo“. 

Alexandre Ventura: “Sim, as avaliações externas são preciosas para obter um olhar mais desvinculado e imparcial. No entanto, elas têm de assumir um posicionamento de parceria e respeito com as escolas avaliadas”.

Casemiro Campos: O ideal seria que a avaliação acompanhasse o trabalho docente em seu imediatismo. Ou seja, o(a) professor(a) poderia utilizar a avaliação para ter domínio sobre o que ensinou e foi aprendido. Quando não houvesse aprendizagem, o professor ou a professora teria clareza sobre o que faltou e sobre como rever suas estratégias, a metodologia e a didática para que se permitisse ao(à) estudante a aprendizagem respeitando o seu ritmo e o seu tempo. É um sonho!”

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O que garante uma avaliação externa eficaz?

Camila Karino: “A avaliação externa precisa ter métricas padronizadas, que permita a imparcialidade e a análise das escolas de acordo com os mesmos critérios. Ela depende de um bom processo de construção dos instrumentos avaliativos – as provas e questionários – bem como uma etapa de análise dos resultados que garanta a comparabilidade e as inferências corretas”. 

Alexandre Ventura: “O ideal é que haja adequação entre o nível dos itens na prova e a sequência de sua apresentação com o potencial e perfil de desempenho dos alunos. Para se acompanhar o desenvolvimento dos alunos e das alunas, tem de se possuir um sistema que recolha informações que possam ser comparadas a intervalos de tempo. Mas, acima de tudo, a eficácia da avaliação só é atingida se ela não for convertida num fim em si mesmo. Se a avaliação não constituir um instrumento a serviço da melhoria da aprendizagem dos(as) estudantes, ela não tem justificativa”.

Quais as tendências para a avaliação nos próximos anos, principalmente considerando a tecnologia digital?

Alexandre Ventura: A tecnologia digital apresenta uma diversidade de ferramentas que podem facilitar muito o trabalho dos(as) professores(as), avaliadores(as) e alunos(as). No entanto, esse potencial ainda está longe de se revelar na maior parte das salas de aula. Na essência, a maioria das escolas continua a funcionar de acordo com o modelo tradicional. Será necessário profissionalizar mais pessoas que trabalhem no âmbito da avaliação, inclusive das áreas de estatística, psicometria, programação, elaboração e avaliação de provas, ética, currículo, comunicação”.

Casemiro Campos: A experiência me credencia para afirmar que a avaliação está consolidada no sistema de ensino de forma geral. Os resultados são confiáveis. No entanto, é necessário que os sistemas tecnológicos digitais sejam potencializados no seu uso pelos governos municípios e estaduais para que possa ter uma avaliação mais próxima da realidade da escola e os professores tenham a devolutiva com maior rapidez nos seus resultados”. 

Camila Karino: “É nítida a mudança na sociedade quanto ao uso de tecnologia e isso se repercutirá em mudanças nas concepções de ensinar e avaliar. Se é que já não mudou. (…) A execução da avaliação externa, por exemplo, é bastante cara e, devido ao processo logístico de impressão e processamento, muitas vezes, é também bastante demorada. A tecnologia tem contribuído para tornar o processo mais barato, rápido e, consequentemente, mais acessível para as escolas e permitindo uma ação pedagógica mais imediata. A tendência é ter cada vez mais uso da tecnologia a favor da avaliação”. 

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Este artigo foi publicado originalmente em 12 de abril de 2016 e atualizado em 10 de abril de 2021.

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