Sono e aprendizagem: o que diz a neurociência

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Sono e aprendizagem

Sono e aprendizagem: educadora e especialista em neurociência, Kátia Chedid fala sobre a importância de dormir para aprender – especialmente na adolescência.

Todos sabemos da importância do sono, especialmente depois de uma noite mal dormida. Afinal, passamos um terço de nossas vidas dormindo! Segundo Kandel, ganhador do Prêmio Nobel com estudos sobre a memória, o sono é um “estado altamente organizado, gerado pela ação cooperativa de muitos componentes comportamentais e neurais”. E, conforme a neurociência vem descobrindo, sono e aprendizagem estão fortemente relacionados.

Durante o sono, acontece a perda reversível do estado de consciência, adotamos uma postura estereotipada (deitados e de olhos fechados) e apresentamos um período de reduzida atividade motora. Não sabemos exatamente porque dormimos, mas sabemos que a privação de sono causa muitos transtornos, inclusive a morte. Dormir pouco reduz a capacidade de manter a atenção em uma tarefa, afetando o desempenho escolar; dificulta a realização de atividades cognitivas; aumenta a sonolência diurna e altera o humor, afirma Fernando Louzada, neurocientista, cronobiólogo e pesquisador da UFPR. Ele defende uma maior flexibilidade de início das aulas para que o sono dos alunos seja preservado.

O neurocientista Fernando Louzada defende uma maior flexibilidade de início das aulas para que o sono dos alunos seja preservado.

O sono noturno ajuda na consolidação das memórias declarativas ou não-declarativas. A Academia Americana de Pediatria divulgou recentemente um documento de políticas públicas no qual orienta as escolas a iniciarem as aulas dos adolescentes por volta das 8h30. Nesse documento, pesquisadores afirmam que a falta de sono torna os adolescentes mais propensos a desenvolver obesidade, diabetes e depressão, além de buscar estímulo em bebidas com cafeína. De acordo com eles, atrasar o início das aulas aumentaria a frequência dos estudantes, reduziria atrasos e ajudaria a melhorar o desempenho escolar. Essa discussão está apenas começando, pois pais e escolas continuam defendendo o início das aulas mais cedo e parecem longe de um consenso.

Memória, sono e aprendizagem dos adolescentes

Na adolescência, passamos por um atraso no relógio biológico de sono e vigília – nosso corpo quer ficar acordado até mais tarde e acordar mais tarde. A liberação de melatonina, o hormônio que induz o sono (cuja liberação é sincronizada com a diminuição da luz solar) é atrasada. O que é um problema para os adolescentes e a escola. A National Sleep Foundation recomenda que os adolescentes durmam, no mínimo, 8 horas por noite. Segundo a mesma Fundação, adolescentes que dormem menos que isso apresentam uma ou mais dessas características associadas à alteração do sono e vigília:

  • Sedentarismo;
  • Uso excessivo de computadores, videogames e mídias digitais por mais de 3 horas por dia;
  • Fumam maconha ou cigarros ou consomem álcool;
  • Depressão por pressões acadêmicas.

A National Sleep Foundation dá algumas dicas para os adolescentes, que as escolas podem difundir entre seus estudantes ao discutir sono e aprendizagem:

  • Vá para a cama na mesma hora todas as noites e levante na mesma hora todas as manhãs;
  • Certifique-se de que o seu quarto é silencioso, escuro e tem um ambiente relaxante, que não é muito quente nem muito frio;
  • Certifique-se de que sua cama esteja confortável e use-a apenas para dormir e não para outras atividades, como ler, assistir TV ou ouvir música;
  • Remova ou desligue todos os televisores, computadores e outros “gadgets” do seu quarto;
  • Evite grandes refeições algumas horas antes de deitar.

Portanto, as escolas precisam criar espaços que respeitem o relógio biológico dos estudantes durante todo o seu crescimento: onde os alunos da Educação Infantil possam tirar um soninho e adolescentes sejam acolhidos em suas peculiaridades. Sono e aprendizagem andam lado a lado e, quanto antes a escola compreender isso, antes poderá se adequar para potencializar o desempenho dos estudantes. As contribuições da neurociência podem ajudar com argumentos, mas a discussão está apenas no início!

* Kátia Chedid educadora e psicopedagoga, além de já ter trabalhado como coordenadora pedagógica e orientadora educacional – no total, Kátia conta com mais de 30 anos de experiência na área. Tem extensão em Neuropsicologia e especialização em Neurociência. Ministrou cursos e palestras como “Contribuições da neurociência para a prática na sala de aula” e “Educação e Neurociência” e tem artigos publicados em seu site, katiachedid.com.br.

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