Como tornar a resolução de problemas interessante para seus alunos? A neurociência explica

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Resolução de problemas com neurociência

A resolução de problemas pode entediar alunos, fazê-los desistir… Ou conquistá-los! A educadora e especialista em neurociência Kátia Chedid explica como transformar desafios em algo prazeroso na sala de aula:

O ser humano é naturalmente curioso, mas não gosta de pensar sobre coisas difíceis demais. Quando ele se depara com a necessidade de pensar, sem encontrar solução, a saída mais fácil é não pensar mais naquilo! Afinal, já dizia o ditado popular: “o que não tem solução, solucionado está”! Então, como envolver os estudantes na resolução de problemas necessários para a aprendizagem?

Na sala de aula, a lógica é a mesma. “Se os professores não ajudarem seus alunos a encontrar a solução para os desafios, eles simplesmente evitarão pensar neles. O professor deve reconsiderar a maneira pela qual encoraja seus alunos a pensar, de modo a maximizar a probabilidade de fazê-los obter o prazer que vem do pensamento bem-sucedido” afirma Daniel Wilingham no livro “Por que os alunos não gostam da escola?”.

Como tornar a resolução de problemas mais prazerosa?

Alguns neurocientistas descobriram que as áreas cerebrais e substâncias químicas responsáveis pela aprendizagem estão relacionadas àquelas que atuam no sistema de recompensa do cérebro. Nosso cérebro se recompensa com a liberação de dopamina, neurotransmissor importante tanto para a aprendizagem quanto para o prazer. Quanto maior for a liberação de dopamina, maior será a sensação de prazer e bem-estar, o que, com certeza, aumentará a motivação associada a um determinado comportamento (no caso, a resolução de um desafio)

Temos a tendência a repetir estímulos que possam ativar nosso sistema de recompensa, portanto, ficamos frustrados ao trabalhar em um problema que não oferece a sensação de progresso. Por exemplo: em muitas aulas de matemática, os alunos resolvem vários exercícios e, depois, aqueles que não conseguiram resolvê-los, simplesmente copiam a resposta correta do quadro-negro. Esses alunos precisam ser motivados a tentar resolver, com seu próprio esforço, os exercícios propostos, do contrário, jamais descobrirão o prazer de solucionar um problema! Os alunos repetirão com prazer os exercícios se tiverem a experiência prazerosa de conseguir resolvê-los!

Na resolução de problemas, encontre o nível de dificuldade ideal

A neurociência diz que a resposta para prender a atenção pode estar na dificuldade da questão. Caso a questão seja fácil demais para o aluno, pode-se obter um pequeno prazer com a resolução, mas não manteremos o empenho e concentração dele por muito tempo. Por outro lado, se a questão for muito difícil, o aluno vai se julgar pouco capaz de solucioná-la e não obterá a satisfação que teria se chegasse à resposta.

Willinghan diz que gostamos de pensar quando acreditamos que a atividade mental oferecerá em troca a sensação agradável que surge com a resolução de problemas. Nosso cérebro avalia quanto esforço mental será necessário para chegarmos a uma conclusão e é fato que, se o esforço for muito ou mínimo, nós abandonaremos o problema. Pense em alguém que goste de montar quebra-cabeças: se essa pessoa pegar um jogo de 10 peças, talvez o monte rapidamente; logo, isso não lhe dará muito prazer pela facilidade. Mas, se optar por um de 5 mil peças, poderá levar tanto tempo que não manterá seu estímulo, largando a atividade incompleta. Isso acontece com palavras cruzadas, com jogos, com tricô e com qualquer outro tipo de atividade, inclusive na escola.

7 passos para apoiar seus alunos na resolução de problemas

A ideia é entender que devemos apresentar aos alunos diversas estratégias para que ele consiga chegar à solução. Abaixo, confira algumas dicas encontradas no livro de Willinghan para o professor assegurar que cada aluno obtenha satisfação na resolução de um problema:

  1. Certifique-se de que o aluno terá um trabalho cognitivo que representa um desafio moderado e examine se a atividade que será proposta fará com que os alunos pensem;
  2. Respeite os limites cognitivos dos alunos. Lembre-se do que eles já sabem e de  que eles têm um limite na memória de trabalho, ou seja, eles só podem armazenar poucas informações por vez. Não sobrecarregue seus alunos com muitas instruções, várias etapas, listas enormes, etc. Diminua o ritmo e utilize auxiliares de memória – às vezes, menos é mais!
  3. Esclareça os problemas a serem resolvidos. A aula é o lugar para isso. Não se esqueça de que a pergunta é que desperta o interesse das pessoas! Apresentar perguntas motivadoras é uma arte e ofício do bom professor;
  4. Reavalie o momento ideal para propor problemas aos alunos. Lembre-se de que o objetivo é desafiar os alunos e deixá-los curiosos. Em alguns momentos, a pergunta inicia a aula e, em outros, poderá aparecer depois que alguns conceitos básicos forem aprendidos;
  5. Aceite e trabalhe com os variados níveis de preparo dos alunos. Alunos com mais dificuldade tentarão fugir do trabalho escolar e a solução para isso seria propor trabalhos adequados aos níveis de competência de cada aluno. Para tal, pode-se utilizar estratégias para a resolução de problemas em grupo ou dupla. Propor atividades que estejam além dos limites não ajudará seus alunos a alcançar quem está mais adiantado, é provável que isso os atrase ainda mais. Conheço muitas escolas que optaram por oferecer um nível puxado de atividades – as mesmas para todos os estudantes de uma sala – e o que elas conseguem é alimentar uma indústria de aulas particulares e psicólogos para tratar a frustração de seus alunos. Pergunto: que mérito tem uma escola e um professor que não atendem às necessidades de todos os seus alunos?
  6. Altere o ritmo. Mudanças atraem a atenção. Planeje mudanças e monitore a atenção da classe;
  7. Mantenha um diário. Anote o que funciona e o que não funciona com a classe. Lembre-se de que a resolução de problemas proporciona uma sensação de prazer, mas o problema deve ser simples o suficiente para ser resolvido e complicado o suficiente para exigir um esforço mental. Faça suas anotações para encontrar esse ponto ideal de dificuldade para cada aluno e cada turma.

* Kátia Chedid educadora e psicopedagoga, além de já ter trabalhado como coordenadora pedagógica e orientadora educacional – no total, Kátia conta com mais de 30 anos de experiência na área. Tem extensão em Neuropsicologia e especialização em Neurociência. Ministrou cursos e palestras como “Contribuições da neurociência para a prática na sala de aula” e “Educação e Neurociência” e tem artigos publicados em seu site, katiachedid.com.br.

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