As transformações tecnológicas e o professor educomunicador

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Alfero Neto reflete sobre as responsabilidades e deveres de um professor educomunicador nos tempos atuais. Confira!

Há alguns anos não existia a possibilidade de comunicação online entre pessoas fisicamente distantes, nem de compartilhar imagens instantaneamente em vários lugares do mundo, assim como não era possível conceber que uma pessoa pudesse aprender tendo como interlocutor uma máquina, como é o caso da aprendizagem intermediada pelo computador. Essas mudanças nos processos de comunicação e produção de conhecimentos geraram transformações na consciência individual, na percepção de mundo, nos valores e nas formas de atuação social.
As transformações sociais e tecnológicas inseriram os seres humanos em redes de comunicação onde as informações circulam de maneira ininterrupta e instantânea. É a sociedade da informação e comunicação generalizada que introduziu modificações profundas no conjunto de valores da humanidade, estabelecendo uma nova ordem com consequências ainda não plenamente identificadas.
Entretanto, o fato de imagens e informações estarem disponíveis não significa, necessariamente, que esteja ocorrendo um processo de democratização do acesso às informações e ao conhecimento, e muito menos que os cidadãos desenvolveram habilidades para refletirem sobre os acontecimentos históricos em que estão inseridos. Basicamente o que mudou nos últimos anos, com o desenvolvimento tecnológico, foi a possibilidade de transmitir as informações globalmente com maior velocidade e em diferentes formatos.
Ao mesmo tempo em que a tecnologia contribui para aproximar as diferentes culturas, aumentando as possibilidades de comunicação, ela também gerou a centralização na produção do conhecimento e do capital, pois o acesso ao mundo tecnológico e da informação ainda é restrito a uma parcela da população. Há uma grande distância entre os indivíduos que dominam a tecnologia e a utilizam para produzir novos saberes e\ou ampliar o capital, e os que são apenas consumidores desses novos recursos e da gama de informações veiculadas e reproduzidas sem nenhuma criticidade. Sem contar os que são excluídos desse processo devido a sua carência material.
Apesar dos esforços de estudos e pesquisas sobre a Interação Humano-Computador para facilitar o acesso e o uso de ferramentais tecnológicos, temos ainda uma realidade marcada pela exclusão digital, constituída de pessoas que, pelas mais diversas razões, vivem à margem dos benefícios sociais promovidos pelas tecnologias.
Por isso, numa sociedade cada vez mais informatizada, a educação não pode abandonar o seu papel que é desenvolver um ser autônomo, livre e crítico que utilize, de maneira consciente e de forma emancipadora, os recursos digitais. O indivíduo não pode se limitar em apenas absorver ideias, mas desenvolver a habilidade de dialogar com elas, recriando-as e atribuindo novos significados.
É nesse contexto que surge o professor educomunicador que materializa o uso cidadão das tecnologias, construindo para isso metodologias apropriadas e criativas com o propósito de desenvolver práticas pedagógicas e metodológicas que promovam o uso social da tecnologia digital modificando a realidade do usuário que é um sujeito histórico.
A Educomunicação é uma área do conhecimento que surgiu com as novas tecnologias digitais tendo como propósito modificar as hierarquias de produção e distribuição do saber, uma vez em que há o reconhecimento que todas as pessoas, integradas no fluxo de informações, são em potencial produtoras de cultura de objetivo educacional. Para o educomunicador, a tecnologia não pode ser colocada como um fim mas como meio que possibilita aprimorar o convívio humano, a produção de conhecimento, a definição e desenvolvimento de projetos colaborativos que favoreçam as mudanças sociais.
A globalização e a inserção da tecnologia no cotidiano da vida social aprimoraram e ampliaram as ferramentas de dominação e controle. A exclusão social se intensificou não somente por causa da carência material e econômica mas também pelo analfabetismo digital que impossibilitou o indivíduo de exercer a sua cidadania através da competência em saber utilizar os aparatos tecnológicos que promovem o seu bem estar.
O indivíduo, seja professor ou aluno, que não consegue manusear os inúmeros e variados equipamentos e ferramentas tecnológicas, apresenta dificuldade em refletir sobre o domínio e o controle que as empresas, grupos sociais e governo exercem sobre os membros de uma sociedade através do uso dos recursos tecnológicos, impossibilitando com que sejam superadas a alienação e a passividade diante da exploração econômica. Diante dessa realidade, o professor educomunicador além de criar metodologias que facilitam a produção do conhecimento por meio dos recursos tecnológicos, desperta no seu meio social uma reflexão ética sobre como e para que esses recursos estão sendo utilizados e produzidos.
Se a civilização tecnológica fosse comparada a uma galera que navega pelos mares, nos porões estão os remadores. Remam com precisão cada vez maior. A cada novo dia recebem remos novos, mais perfeitos. Acelera-se o ritmo das remadas, sabem tudo sobre a ciência do remar. A galera navega cada vez mais rápida. Mas perguntados sobre o porto de destino, respondem os remadores: “o porto não nos importa, o que importa é a velocidade com que navegamos”. Multiplicam-se os meios técnicos e científicos ao nosso dispor, que fazem com que as mudanças sejam cada vez mais rápidas, porém, somente aqueles que planejam o uso da tecnologia como recurso têm ideia para onde navegamos.
*Alfero Mendes Neto é professor de Geografia e trabalha com Tecnologia Educacional na Escola Salesiana São José (Campinas – SP), graduado em Filosofia e Geografia com especialização em Uso dos Recursos Digitais na Educação pela Unicamp e Educamunicação pela Unisal.  Produz conteúdo sobre metodologias de ensino utilizando os recursos digitais na sala de aula no site www.alferomendes.com.br. Entre em contato: alfero@uol.com.br.
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