O que as escolas públicas cariocas fizeram para dominar o ranking nacional

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Um projeto inovador que já nasceu com altíssimo desempenho – e realizado na rede pública. Lançados em 2011, os GECs (Ginásios Experimentais Cariocas) tiveram uma performance invejável na última edição do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), em 2013. Nada menos que 12 GECs ficaram entre as 20 escolas públicas top do Brasil. Nesse curto período de tempo, o grupo dos ginásios experimentais teve melhora de até 154% no desempenho – caso do GEC Mario Casasanta, cuja nota saltou de 2,4 para 6,1 entre os Idebs de 2009 e 2013.
O segredo? Uma proposta construída em conjunto com a direção das escolas, que deu ênfase ao protagonismo dos alunos e ao mapeamento das suas deficiências – com diagnósticos e roteiros de estudo apoiados na tecnologia da Geekie. “Sou fã de carteirinha da Geekie”, diz a gerente de Projetos Estratégicos do Instituto Inspirare Heloísa Mesquita, que foi responsável pela implantação do projeto na Secretaria Municipal de Ensino do Rio.
Receita escalável
Antes de falar mais da participação da Geekie, vamos retroceder um pouco para entender como foi montado o projeto que em tempo recorde transformou escolas normais da rede em “mísseis” no Ideb. Uma receita ao mesmo tempo engenhosa e simples, que pode ser escalada para todo o País. Aliás, a iniciativa deu tão certo que hoje até seu nome mudou. Como receita testada e aprovada não pode ser chamada de experimental, o GEC perdeu o E e virou Ginásio Carioca.
Retrocedendo a 2010, vamos encontrar Heloísa correndo contra o relógio durante o primeiro semestre na secretaria, empenhada em colocar de pé um novo modelo de escola no fundamental 2, com ênfase na 7.ª, 8.ª e 9.ª séries. “Tínhamos algumas ideias, como a de que era preciso trabalhar o aspecto socioemocional, fazer o aluno desenvolver um projeto de vida”, diz Heloísa. “Também achávamos que seria importante fazer um diagnóstico do aluno antes do começo das aulas, para já programar turmas de reforço e aumentar os níveis de proficiência.”
Filtros
Como o tempo era curto, a equipe de Heloísa decidiu trabalhar inicialmente com dez escolas, uma de cada Coordenadoria Regional de Ensino da cidade. Para isso, aplicou dois filtros ao universo de cerca de 450 unidades da rede. Primeiro mapeou escolas com boa infraestrutura física, como quadra coberta e espaços adequados para desenvolver atividades extracurriculares.
Na fase inicial, foram selecionadas 157 escolas. A secretaria, então, aplicou o segundo filtro: identificar gestores dispostos a construir um modelo de ensino inovador. “Todas as estratégias foram consolidadas e pactuadas com a direção de cada GEC”, conta Heloísa. Ou seja, não houve uma única receita vencedora, mas receitas, no plural.
Aulas de reforço incorporadas ao currículo
Fechada a seleção, o segundo semestre foi dedicado a preparar gestores e professores para o embarque no projeto. Os GECs começaram a funcionar em 2011 e já em março os alunos passaram por uma avaliação, montada pelos professores da rede, para mapear deficiências de aprendizagem. Como os GECs funcionam em período integral (a jornada, que na época ia das 8 às 16 horas, foi depois reduzida em 1 hora), as aulas de reforço, ou “nivelamento paralelo”, puderam ser incorporadas à matriz curricular, na disciplina Estudos Dirigidos.
A proposta do GEC já produziu resultados meses depois, em novembro, na Prova Brasil (avaliação feita de dois em dois anos, usada na composição da nota do Ideb). “A melhora no desempenho das dez escolas variou entre 40% e 108%”, conta Heloísa. “Os dados não tinham nada de subjetivo. Tínhamos acertado nas receitas do bolo, agora precisávamos descobrir como melhorar ainda mais.”
Algoritmo entra em cena
O ano de 2012 marcou a entrada da Geekie no projeto, que incorporou mais escolas – no fim do ano passado, a rede já tinha 28 Ginásios Cariocas. “Propusemos uma parceria. A secretaria entrou com material didático digital e questões desenvolvidas pelos professores para fazer provas calibradas bimestrais”, diz Heloísa. “A Geekie entrou com a plataforma online e o seu algoritmo, para orientar a navegação do aluno pelos conteúdos.”
Com o novo suporte tecnológico, também foi possível dobrar o número de avaliações diagnósticas, que passaram a ser realizadas em março e agosto, fornecendo um retrato fiel da evolução de cada estudante. Heloísa considera a parceria tão bem-sucedida que considera viável ampliar o modelo para todo o País. “Ele certamente é escalável.”
A proposta radical do Projeto Gente
Em um dos Ginásios Cariocas, o Projeto Gente, a plataforma da Geekie está a serviço de uma proposta ainda mais ousada de inovação, iniciada em 2013 na Escola Municipal André Urani – homenagem a um economista ítalo-carioca apaixonado pelo Rio, que dedicou seu talento à busca de soluções para os problemas da cidade –, na Favela da Rocinha, zona sul. O Gente (sigla de Ginásio Experimental de Novas Tecnologias Educacionais) radicalizou no projeto de criar um modelo mais flexível e personalizado de ensino, inspirado em experiências como a da Escola da Ponte portuguesa e da Summit, americana.
Paredes foram derrubadas, dando lugar a espaços onde os 240 alunos de idades diferentes se misturam. Embora sejam matriculados nas séries convencionais determinadas pela legislação, do 7.º ao 9.º ano, eles são agrupados depois de forma mais flexível em times, montados a partir de um diagnóstico abrangente, que inclui aspectos acadêmicos, emocionais e os interesses de cada estudante.


Enfim, professores-mentores
Professores especialistas viraram professores-mentores, com a missão de supervisionar os times no aprendizado em várias disciplinas. Esse é o perfil de 10 dos 16 professores do Gente (ainda há especialistas em matemática, português, inglês, artes e educação física).
O dia na escola se divide entre os horários de mentoria, que ocupam 60% da grade, e os laboratórios de aprendizagem, nos quais os times têm atividades mais parecidas com as aulas tradicionais.
A Geekie entrou no Gente este ano, em abril. Incorporou à sua plataforma o acervo digital da Educopédia, preparado por professores da rede municipal, que inclui conteúdos como aulas do Telecurso 2.º Grau, da Fundação Roberto Marinho. “A plataforma se encaixou perfeitamente nos princípios do projeto”, diz Neide Barros, professora e psicóloga com larga experiência no terceiro setor e responsável pelo Projeto Gente na Geekie. “Isso levanta uma questão: você precisa necessariamente de tecnologia para personalizar o ensino? Não. Mas a tecnologia facilita 500% esse trabalho.”
Sequência didática
Com o conteúdo organizado em uma sequência didática consistente na plataforma, os professores se sentiram mais seguros no seu papel de mentores. E nos laboratórios, quando é necessária a intervenção dos professores especialistas, um dos critérios para definir o tópico a ser trabalhado são os diagnósticos da plataforma, que indica os conteúdos nos quais o aprendizado precisa ser reforçado.
“A plataforma é importante para mapear fragilidades e também para apontar aqueles alunos que podem acelerar o ritmo”, diz Neide. “Na avaliação preditiva identificamos um estudante com nível excelente na comparação com as médias do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e das escolas particulares. Um dos professores desenvolveu um projeto específico para ele, com foco em concursos públicos.”

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