Claudio Sassaki: “Trabalhamos para educar uma nova geração autônoma, crítica e inovadora”

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A edição do jornal A Tribuna de Santos trouxe uma entrevista completa com Claudio Sassaki, CEO e cofundador da Geekie. Leia abaixo o conteúdo na íntegra:

 

Nós já temos uma geração de nativos digitais, mas uma escola que, de modo geral, ainda não se adaptou a eles. Em sua opinião, qual o impacto dessa distância entre tecnologia e educação na sociedade?

Se quisermos promover os desenvolvimentos necessários à realização pessoal, à cidadania ativa, à inclusão social e ao emprego, precisamos pensar nas demandas do futuro. A cada momento, nos deparamos com novas tecnologias e novas profissões. Estamos falando de inteligência artificial, biotecnologia e realidade virtual… só para começar. Apesar das incertezas, a tendência é clara e teremos cada vez menos ocupações que exigem competências meramente técnicas. O mercado de trabalho já cobra competências que não estão sendo estimuladas em um modelo passivo de aprendizagem – que envolve colaboração, pensamento crítico, comunicação, criatividade. Os estudos apontam, inclusive, que 85% das profissões que teremos em 2030 ainda não existem. Então, é incoerente defendermos uma escola tradicional e cobramos inovação no mercado de trabalho. Na Geekie, trabalhamos para educar uma nova geração de brasileiros autônomos, críticos, inovadores, capazes de se reinventarem diante das novas demandas e das rápidas transformações. E isso passa pelo uso da tecnologia dentro da sala de aula, mas dentro de um contexto de intencionalidade pedagógica. Não podemos correr o risco de ensinar conteúdos que ficarão obsoletos; buscamos ensinar o aluno a aprender cada vez mais.


E qual o desafio disso?

Temos o desafio de contextualizar esse uso e auxiliar os jovens a lidar com os desafios e oportunidades apresentados pelo mundo digital. E, nesse item, tenho que discordar de uma crença que costuma permear a mente de pais e professores. Partimos do princípio que esses jovens e crianças já sabem usar tecnologia, mas é muito diferente disso. Não podemos esperar que eles entendam a amplitude e, sobretudo, as consequências de suas ações on-line; precisamos falar de educação digital. Defendo que a escola e a família precisam ensinar os jovens a lidar com as oportunidades, os riscos e os desafios de estarem conectados. Mas, ressalto que a Geekie adota o modelo híbrido, com o uso de dispositivos – como computadores, celulares e tablets. Não investimos em uma solução 100% digital. Acreditamos em um modelo híbrido com uso de lousa, caderno, conteúdo significativo e a mediação do professor; um modelo que representa inovação ao colocar o humano, professor e aluno, no centro do processo educacional. Por isso, defendo a educação digital que prepara esses jovens não apenas para o mundo do trabalho, mas para a vida contemporânea.


Em algum momento dessas discussões sobre tecnologia em sala de aula, houve uma explosão de tablets e lousas digitais nas escolas. E, em muitas, esses equipamentos foram subutilizados porque, apesar desse passo digital, as aulas, os conteúdos e os professores continuaram analógicos. O que de fato significa tecnologia Educação, mas dentro de uma visão útil e transformadora?

Aqui, vou desenvolver um conceito que citei na primeira resposta: a tecnologia com intencionalidade pedagógica. Essa inserção ultrapassa a mera decisão de levar equipamentos tecnológicos para dentro da sala de aula. Requer uma mudança de mindset (mentalidade) e capacitação dos educadores. Bem utilizada, a tecnologia poupa tempo e permite ao professor se concentrar no que é essencial. O papel desse educador é o de discutir com a classe as linhas gerais do conteúdo e colocar os temas em contexto, algo que computadores, pelo menos os convencionais, não conseguem fazer.


E para o aluno?

No caso dos alunos, a atualização tecnológica aproxima o ensino do seu cotidiano. A escola deixa de ser o lugar onde eles se desconectam do mundo. Essa mudança traz benefícios não só no aspecto acadêmico. Pesquisas realizadas nos Estados Unidos mostram que os estudantes com acesso a tecnologia tiveram ganhos no desempenho em matemática e em inglês, mas também em autoestima e motivação. As possibilidades abertas pela adoção da tecnologia vão bem além – e na contramão dos que enxergam nos novos recursos um fator de padronização do ensino. Quando você pergunta o que representa, de fato, uma tecnologia transformadora nas escolas, dentro de uma perspectiva de utilidade e inovação, posso dizer que uma das principais tendências do setor é a da personalização, na qual, graças ao apoio de plataformas digitais, cada aluno tem autonomia para aprender no seu próprio ritmo. Nas disciplinas com as quais tem mais afinidade, ele verá conteúdos mais complexos que os da média da classe. Naquelas em que tem mais dificuldade, vai estudar coisas que a maioria dos colegas já viu antes, sem que isso signifique prejuízo no aprendizado.


A tecnologia não substitui o professor, mas como muda o papel dele em sala de aula?

No processo de personalização o professor tem, novamente, papel fundamental. Ele se torna, mais do que um entregador de conteúdo, um mentor do aprendizado, desenvolvendo uma relação muito mais próxima com o aluno. Não podemos falar de uma escola que prepara para o futuro do trabalho sem considerar que os educadores precisam ser os primeiros a estarem preparados para isso e a boa notícia é que estão dispostos, ao contrário do que muito se fala sobre o professor ser resistente a inovação. Ele é resistente quando ela é colocada na escola sem intencionalidade pedagógica, ou ainda sem um olhar de capacitação – técnica e metodológica – para que ele possa aproveitar seu valor. A pesquisa Profissão Professor – conduzida pelo movimento Todos pela Educação com mais de 2 mil professores brasileiros de educação básica e ensino médio, em junho deste ano –, aponta que 69% dos educadores defendem que dar mais oportunidades de qualificação aos docentes que estão na ativa é a medida mais eficaz para a valorização da profissão pela sociedade.


Que tipo de aprendizagem a tecnologia possibilita e como ela colabora para o desenvolvimento das chamadas competências do século 21?

O desafio educacional proposto pelo século XXI tem sido pautado pela urgência de formar cidadãos preparados para lidar com complexidades de um contexto no qual a tecnologia avança de maneira exponencial. Como já citei, com a impossibilidade de prevermos as profissões que surgirão na próxima década, educadores e pais vivenciam a demanda de formar indivíduos críticos e colaborativos, capazes de compreender o ambiente e criar formas para impactar positivamente a sociedade. A tecnologia já revolucionou diversos setores. Do transporte urbano à medicina são muitos os exemplos onde o suporte digital abre novas oportunidades, potencializando benefícios e otimizando rotinas. O setor educacional, entretanto, apresenta-se como um contraste à tendência. Educação, entretanto, apresenta-se como um contraste e precisa seguir a tendência. Justamente no segmento que lida com uma geração que já nasceu conectada, a tecnologia tende a ser deixada do lado de fora da sala de aula. Introduzida com intencionalidade pedagógica, entretanto, inovações podem trazer diversos benefícios para o processo de ensino-aprendizagem. Com a experiência adquirida em sete anos de atuação e mais de 12 milhões de alunos alcançados, a Geekie compreende que a maneira de pensar e processar conhecimento é fundamentalmente diferente para crianças e jovens que nasceram expostos a um volume imenso e constante de informação – e que isso interfere diretamente nas estratégias de aprendizagem que precisam ser desenhadas.


Por outro lado, que pontos merecem atenção para que a tecnologia não se torne perigosa?

Temos que lidar – dentro e fora da escola – com questões como assédio online, cyberbullying, fake news, entre outros males digitais. Educar os jovens para os desafios e oportunidades das redes sociais é um tema de especial relevância diante do aumento dos episódios de intolerância nas redes sociais, por exemplo. Uma pesquisa sobre cyberbullying, conduzida pela IPSOS com 20,8 mil pessoas em 28 países, aponta o Brasil como o segundo no número de agressões online. A cada 10 pais entrevistados, três disseram que os filhos já sofreram violência na internet; 53% dos pais brasileiros afirmaram que o ataque partiu de colegas de classe do filho, que cometeram o ataque em redes sociais. Então, defendo firmemente a educação digital. Devemos preparar nossos filhos para lidar com a complexidade da vida digital e as consequências fora dela. Educar para a cidadania digital vai além da disseminação da compreensão de conceitos como pegadas digitais, por exemplo. O aluno tem que ser preparado para ver e compreender a relevância desse conhecimento, entender como as pegadas digitais influenciam na forma como ele será visto na internet; como a reputação online pode influenciar a busca de um emprego ou vaga acadêmica, no futuro. Esse aprendizado envolve disponibilizar insumos para o alcance da cidadania, ou seja, uma aprendizagem significativa e que é muito relevante para o cotidiano desse estudante. E, lembrando novamente, da intencionalidade pedagógica para o uso da tecnologia, ou seja, esse uso precisa de capacitação por parte de alunos, mediada por um professor.


Veja onde mais a Geekie foi assunto:

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