Final de ano: avaliamos o que produzimos e planejamos o que queremos realizar

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Final de ano

Alfero Neto faz uma retrospectiva de final de ano dos seus artigos publicados no InfoGeekie nesse ano e aproveita para avaliar sua caminhada e traçar novas perspectivas. Confira!

Estamos nos aproximando do término de mais um ano e, consequentemente, todos aqueles que estão envolvidos com a educação formal celebram também o encerramento do ano letivo. É um momento em que, nós, professores, fechamos os nossos diários de sala e avaliamos o nosso trabalho. Terminamos o ano com aquela sensação de dever cumprido. Mesmo assim, mal acabamos de limpar os nossos armários da sala dos professores e já começamos a rascunhar alguns projetos pedagógicos e a elencar práticas que devem melhorar no ano seguinte. Tenho certeza que tal procedimento é uma rotina que não mais assusta aqueles que estão envolvidos com o processo de ensino e aprendizagem nas escolas.  
E, já que estamos falando da conclusão de mais um ano, agradeço a todos aqueles que leram os meus artigos. Foram vários textos publicados neste espaço com o intuito de compartilhar com vocês algumas reflexões sobre o uso dos recursos digitais na sala de aula. Ao escrever esses artigos, eu procurei expressar as minhas crenças e demonstrar que eu preciso, como professor, repensar a minha metodologia de ensino pois não sou mais aquele que informa, mas o que propicia aos alunos transformar as informações em conhecimentos tendo como instrumento o uso das ferramentas digitais.  Sei que tal afirmação é polêmica, mas, antes de qualquer crítica, esclareço que acredito nas ferramentas digitais como meios que facilitam a aprendizagem e não como a finalidade do ato educativo.
Como o final de ano é sempre um período favorável para avaliar a caminhada e traçar novas perspectivas, gostaria de fazer uma retrospectiva dos textos que escrevi destacando as suas principais informações.
A minha primeira publicação foi no dia 16 de março deste ano. O texto mostrava que a popularização da internet, junto da expansão da banda larga, possibilitou metodologias de aprendizagem além da tradicional forma de ensino baseada na exposição de conteúdos e registros no quadro. A internet promoveu uma nova relação com o conhecimento pois criou novas formas de acesso, outras sensações, leituras, interações e experiências cognitivas. Ao professor, que antes tinha a tarefa de transmitir o saber, agora adquire um novo papel no processo de aprendizagem: o de ser o gestor do conhecimento, tendo como pressuposto que todo aluno aprende no seu tempo, no seu ritmo e nos mais variados espaços, inclusive distantes da sala de aula. Para escola é delegada a função de criar condições para que o aluno desenvolva suas habilidades e competências não só cognitivas, mas que adquira, ao finalizar a sua formação básica, uma cultura digital. É dever da escola formar pessoas capacitadas para, através do letramento digital, promover o seu desenvolvimento humano, profissional e social.
No artigo publicado em junho, comentei que, apesar dos avanços dos recursos midiáticos, como o computador, o tablet ou o smartphone, que ajudam na produção de novos saberes, muitos professores ainda utilizam os filmes e os documentários como recurso didático. Todavia, esse recurso metodológico exige uma adequação aos hábitos culturais dessa geração que atualmente ocupa as salas de aulas. O uso de vídeos deixa uma apresentação dinâmica, ilustrativa e carregada de significados, porém, é preciso que ele seja inserido em uma metodologia ativa e planejada – o vídeo deve ser utilizado como instrumento didático não apenas para ilustrar um conteúdo, mas para estimular a criação de conceitos e compreensões dos fatos.
Em julho, escrevi sobre big data, que é um conjunto de tecnologias digitais capazes de tratar grandes volumes de dados, estruturados ou não, de diferentes formatos, em uma velocidade vertiginosa. Esse processo realizado em um curto período de tempo possibilita que as relações dos dados se transformem em informações significativas que podem promover o conhecimento. De posse dos dados gerados pela plataforma educacional, usando a big data na escola, o professor pode avaliar o seu trabalho, refazer o seu planejamento pedagógico e identificar os assuntos que mais apresentaram dificuldades de compreensão e também pode compartilhar com as famílias dos seus alunos o compromisso de formar cidadãos preparados para a sociedade do século XXI.
No mês de agosto, foi a vez de escrever sobre uma atividade realizada na sala de aula utilizando o celular ou um dispositivo móvel. Na medida em que os alunos e os professores estão cada vez mais conectados às novas tecnologias digitais, o grande desafio a ser discutido no âmbito da comunidade educativa é o desenvolvimento de suas habilidades para o uso crítico da rede, tema que está contido na ideia de alfabetização midiática e informacional. O intuito de utilizar o celular em algumas aulas é despertar nos alunos a consciência que os recursos tecnológicos podem favorecer o nosso aprendizado. Para que uma tecnologia se torne uma ferramenta pedagógica eficiente, é necessário inseri-la no planejamento de aula e usá-la como estratégia de ensino.
As transformações sociais e tecnológicas inseriram os seres humanos em redes de comunicação onde as informações circulam de maneira ininterrupta e instantânea. Entretanto, isso não significa, necessariamente, que esteja ocorrendo um processo de democratização do acesso às informações e ao conhecimento, e muito menos que os cidadãos desenvolveram habilidades para refletirem sobre os acontecimentos históricos em que estão inseridos. No mês de setembro, fiz uma reflexão mostrando que o indivíduo não pode se limitar em apenas absorver ideias, mas desenvolver a habilidade de dialogar com elas, recriando-as e atribuindo novos significados. Surge assim, o professor educomunicador que materializa o uso cidadão das tecnologias, planejando e construindo práticas pedagógicas que promovam o uso social dos recursos digitais modificando a realidade do usuário que é um sujeito histórico.
No artigo seguinte, comentei que a simples aquisição de informações não basta para preparar os adolescentes e jovens para enfrentar os problemas diários e fazer determinadas escolhas que podem ter um impacto importante em sua vida presente e futura, como cidadãos adultos. Não basta dar a cada criança, desde o começo de sua vida, um cabedal de informações sobre o mundo, a vida e a realidade na qual está inserida. Cada indivíduo deve ser equipado de modo a poder captar as oportunidades de aprender, tanto para alargar seus conhecimentos e suas atitudes quanto para adaptar-se a um mundo complexo e interdependente. A Educomunicação é uma área do conhecimento que surgiu com as novas tecnologias digitais tendo como propósito modificar as hierarquias de produção e distribuição do saber, uma vez em que há o reconhecimento que todas as pessoas, integradas no fluxo de informações, são em potencial produtoras de cultura com objetivo educacional. Para o educomunicador, no caso, o professor, a tecnologia não pode ser colocada como um fim, mas como meio que possibilita aprimorar o convívio humano, a produção de conhecimento, a definição e desenvolvimento de projetos colaborativos que favoreçam as mudanças sociais.
O uso dos recursos digitais na escola, além de favorecer a prática de novas metodologias de ensino, possibilita ao professor dividir a responsabilidade do processo de aprendizagem com o aluno e sua família. Isso incentiva a autonomia do estudante e o prepara para a sociedade do século XXI uma vez que o mercado de trabalho exige do cidadão uma fluência digital e o domínio de novas competências e habilidades. Por isso, mais do que reproduzir dados, denominar classificações ou identificar símbolos, estar formado para a vida, em um mundo como o atual, significa: saber se informar, se comunicar, argumentar, compreender, agir para solucionar problemas de qualquer natureza, participar socialmente de forma prática e solidária, ser capaz de elaborar críticas ou propostas e, especialmente, adquirir uma atitude de permanente aprendizado.
É de conhecimento de todos que a simples aquisição da informação não possibilita ao aluno fazer uma leitura da realidade que ocupa e interage. Para formar um cidadão capaz de fazer uma reflexão sobre a dinâmica na qual está inserido, é preciso que a escola, por meio da prática pedagógica do professor, seja capaz de transformar os simples dados informativos, presentes principalmente nos livros didáticos, em conhecimento significativo.
Por fim, para não ficar só no campo da teoria, compartilhei com vocês alguns aplicativos para celular e alguns recursos digitais que facilitam a minha vida no dia a dia e que também são utilizados na sala de aula como recursos metodológicos, como, por exemplo: a Kahoot, o Socrative, o Google Forms, o Canvas, o Calaméo, Evernote, Snapseed, o Prezi e o Wix. Quando utilizamos desses recursos como metodologias de ensino, percebemos que o ato de ensinar e aprender ganha novos significados porque a aprendizagem não se restringe mais ao espaço físico da escola, mas se estende para outros ambientes distantes dela. O uso dos recursos digitais possibilita uma maior interação nos processos de comunicação e uma relação professor-aluno mais aberta e significativa e compartilha com todos a responsabilidade pela aprendizagem.
* Alfero Mendes Neto é professor de Geografia e trabalha com Tecnologia Educacional na Escola Salesiana São José (Campinas – SP). Graduado em Filosofia e Geografia com especialização em Uso dos Recursos Digitais na Educação pela Unicamp e Educamunicação pela Unisal. Produz conteúdo sobre metodologias de ensino utilizando os recursos digitais na sala de aula no seu site pessoal.

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