A importância do feedback na formação de professores e professoras

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Formação de professores 2

A educadora Silvana Tamassia, sócio-fundadora da Elos Educacional, fala sobre a importância do feedback na formação de professores e professoras. Como dar um feedback eficiente que contribua com a prática pedagógica?

A formação de professores e professoras passa pela formação inicial exigida para o exercício da função – nas Universidades e Institutos de Ensino Superior – e, quando já estão atuando, pela formação continuada em serviço.

Algumas pessoas apontam a formação continuada como uma forma de reparar as “deficiências” da formação inicial. Entretanto, por melhor que tenha sido a formação inicial, os desafios que se apresentam a cada dia no cotidiano escolar nos impõem a necessidade de estarmos sempre nos aperfeiçoando e refletindo sobre a nossa prática, a fim de qualificar nossa ação docente.

Além disso, podemos considerar um processo anterior ao da formação inicial em nível superior: o processo autoformativo baseado em nossas memórias. Muitos professores e muitas professoras iniciantes resgatam, nas memórias de seus tempos de aluno ou aluna, bons exemplos de docentes que procuram reproduzir em suas atuações como docente.

Essa formação de professores(as) baseada na experiência escolar traz ainda certa proximidade com relação ao trabalho docente, tornando-o menos impessoal e mais reflexivo, pois permite ao professor ou à professora ir se desenvolvendo e buscando outras referências que possam auxiliar nessa jornada profissional.

Na formação de professores(as) continuada em serviço, que tem como lócus privilegiado a própria escola onde cada educador(a) atua, ele(a) pode buscar referências em colegas mais experientes, que já têm uma trajetória na área e podem apoiar esse profissional iniciante.

A formação de professores(as) na escola

Para garantir os momentos formativos na escola, a Lei nº 11.738, de 16 de julho de 2008, descreve no parágrafo quarto a seguinte orientação: “Na composição da jornada de trabalho, observar-se-á o limite máximo de dois terços da carga horária para o desempenho das atividades de interação com os educandos“.

Com isso, os(as) professores(as) das redes públicas passaram a ter em sua carga horária um terço da jornada para estudo e planejamento. Já nas redes particulares, há uma grande diversidade de modelos, alguns com encontros mensais e outros com “janelas” durante as aulas dos(as) especialistas, entre outros.

Embora muitas escolas e redes de ensino ainda estejam se adaptando para garantir estes momentos de estudo na jornada do(a) professor(a), é preciso que a escola tenha uma equipe preparada para garantir a qualidade dessa formação docente.

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O feedback na formação de professores(as)

Em geral, o(a) coordenador(a) pedagógico(a) é o responsável por esta atividade, que pode propor diferentes oportunidades de aprendizagem e reflexão da prática pedagógica, como, por exemplo: nas reuniões pedagógicas, nos conselhos de classe, durante a leitura e devolutiva dos planos de aula ou observando as aulas e dando feedback ao professor ou à professora.

O trabalho com observação e feedback é uma estratégia de formação de professores(as) bastante personalizada, pois permite ao(à) coordenador(a) pedagógico(a) observar a ação didática de cada professor(a), a dinâmica da aula, o uso de recursos pedagógicos, o engajamento dos alunos e das alunas, ou outros focos de observação que sejam eleitos na escola.

Ao observar cada aula focando nos aspectos escolhidos, o(a) coordenador(a) pode identificar lacunas na formação do(a) professor(a) e, no momento do feedback, estabelecer um diálogo reflexivo que leve o(a) docente a identificá-las e a buscar novas maneiras de desenvolver sua aula, com foco na melhoria da prática e, consequentemente, dos resultados dos(as) estudantes.

Para que esses momentos sejam aceitos e bem aproveitados, é preciso que haja um envolvimento entre as partes e que tanto professor(a) quanto coordenador(a) vejam nessa atividade potencial para o seu desenvolvimento profissional.

A avaliação ainda é um tabu em nossa cultura. Ter um feedback significa ser analisado sob outros pontos de vista diferentes do nosso. Para receber esse feedback, é preciso estar aberto(a) e preparado(a) para aproveitá-lo da melhor maneira, transformando sua prática atual numa prática ainda melhor.

No caso do professor ou da professora, que muitas vezes encontra-se sozinho(a) no seu fazer pedagógico, ter esse olhar externo é muito importante. Para Telma Weisz (2002) “…o professor está quase sempre tão envolvido que, às vezes, não lhe é possível enxergar o que salta aos olhos de um observador externo”.

Ao dar um feedback ao professor ou à professora sobre uma aula observada ou um planejamento realizado, o(a) coordenador(a) pedagógico(a) contribui para que ele reflita sobre sua ação e possa incorporar novas ideias e metodologias que favoreçam a aprendizagem dos(as) alunos(as).

Como estruturar um feedback eficiente

Para isso, o feedback precisa seguir alguns princípios que o tornem mais eficiente como ferramenta de desenvolvimento profissional para o professor ou à professora:

  • Ser descritivo: ele precisa se focar nos fatos, não em inferências que possam ser feitas por aquele que observa; é preciso olhar primeiro para a realidade, entendê-la e esclarecer o que for necessário antes de fazer pré-julgamentos que podem dificultar a aproximação do(a) professor(a), que se sentirá “julgado(a)” e se fechará para esta oportunidade;
  • Ser específico: indicar pontos em que o(a) professor(a) precisa avançar, direcionando exatamente o que poderia ser feito. Isso deve acontecer após um primeiro momento de conversa, em que o(a) próprio(a) professor(a) seja capaz de perceber suas fragilidades. Não é indicado começar a conversa já realizando estes apontamentos, que podem parecer impositivos;
  • Ser factível: o feedback deve ser real e possível de ser realizado, não algo que seja tão distante que impeça o(a) professor(a) de concretizá-lo;
  • Ser oportuno: o feedback deve ser realizado logo após a observação ou entrega do planejamento, dando tempo para que o(a) coordenador(a) reflita e se prepare para o encontro. Ele não deve, porém, ultrapassar uma semana;
  • Ser reflexivo: o feedback deve se basear no diálogo, de modo que o(a) coordenador(a) conduza a conversa por meio de perguntas reflexivas que ajudem o(a) professor(a) a se enxergar neste processo;
  • Ser propositivo levando o(a) professor(a) a mudanças: de nada adianta realizar um feedback apenas dizendo que está tudo bem ou, ao contrário, dizendo que é preciso melhorar, se o(a) formador(a) não indicar caminhos, sem trouxer sugestões, contribua para a mudança. Desse modo, a preparação do feedback é importante para que ele seja realmente um momento importante de reflexão e aprendizagem, provocando mudanças positivas na prática docente.

Acreditamos que, seguindo esses princípios, será possível garantir bons feedbacks na formação de professores(as), reflexões que contribuam efetivamente para a qualidade e melhoria da prática pedagógica, garantindo o desenvolvimento profissional dos educadores e das educadoras envolvidos(as) neste processo.

* Silvana Tamassia é doutoranda em Psicologia da Educação pela PUC-SP. É mestre em Educação: Currículo pela PUC-SP, na linha de pesquisa sobre formação de professores. Formada em Pedagogia com especialização em Psicopedagogia e Educação Infantil pela UNIA e com MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Tem vasta experiência na área da educação, tendo atuado como professora e coordenadora pedagógica em escolas públicas e privadas, além de professora no Ensino Superior em cursos de Pedagogia e Pós-Graduação. Coordenou e produziu materiais para diversos projetos na área educacional em parceria com Fundação Lemann, Instituto Unibanco, Itaú BBA, Instituto Natura e Instituto Crescer. Em 2007 conquistou o Prêmio Educador Nota 10, concedido pela Fundação Victor Civita. Produz artigos para blogs, revistas e livros sobre educação. Atualmente é sócia-fundadora da Elos Educacional atuando em programas de formação de professores e gestores e membro da rede de Talentos da Educação da Fundação Lemann. Para dúvidas ou sugestões, escreva para silvanatamassia@eloseducacional.com

Este artigo foi originalmente publicado em 1º de agosto de 2016 e atualizado em 6 de outubro de 2020.

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