Avaliar habilidades ou conteúdo: a avaliação no século 21

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Avaliar habilidades é um dos desafios do século 21. Entenda quais são as competências mais valorizadas por educadores e como elaborar provas que mensurem não somente o conteúdo decorado.

Uma das tendências na educação do século 21 é o foco no desenvolvimento integral do ser humano – uma transição do ensino conteudista para a aprendizagem através de habilidades e competências socioemocionais. Avaliar habilidades e competências, portanto, torna-se um papel da “escola do futuro”; entretanto, esse caminho ainda é difuso e educadores ainda discutem o quanto (e como) a escola consegue abraçar.

A doutora americana Marilyn Price-Mitchell, psicóloga e pesquisadora da Fielding Graduate University, criou uma bússola contendo o que considera serem as habilidades essenciais para o século 21 e que, portanto, devem ser cultivadas tanto pela família quanto pela escola. São elas: empatia, curiosidade, sociabilidade, resiliência, autoconhecimento, integridade, resolução de problemas e criatividade.

Vamos olhar rapidamente para cada uma dessas habilidades – ou acesse o artigo original, em inglês, aqui.


Imagem: Marilyn Price-Mitchell, PhD.
  • Empatia é a habilidade de reconhecer, sentir e responder às necessidades ou sofrimentos de outros. É o que torna o indivíduo capaz de cuidar daqueles ao seu redor e demonstrar compaixão.
  • Curiosidade é a habilidade de buscar e adquirir conhecimentos, técnicas e maneiras de compreender o mundo. É o que nos motiva a continuar aprendendo durante toda a vida.
  • Sociabilidade é a habilidade de viver coletivamente e de forma colaborativa, entendendo a necessidade de regras. Inclui a escuta, o autocontrole e a comunicação eficaz.
  • Resiliência é a capacidade de aceitar e superar fracassos ou desafios, tranformando-os em aprendizados e garantindo o bem estar emocional. Desenvolver a resiliência impulsiona alunos para além da sua zona de conforto.
  • Autoconhecimento é a habilidade de examinar, questionar e entender quem somos para o mundo à nossa volta. É conseguir confrontar e ressignificar valores e crenças.
  • Integridade é a escolha de agir de acordo com os valores que acreditamos corretos, mesmo se ninguém estiver olhando. Implica em fazer escolhas honestas e corajosas e em tratar a todos com dignidade.
  • Resolução problemas (em inglês, o significado resourcefulness estaria próximo de “engenhosidade”) significa encontrar e utilizar os recursos à disposição para solucionar problemas, atingir objetivos e transformar realidades. Envolve planejamento, pensamento estratégico e organização.
  • Criatividade é a habilidade de gerar e expressar ideias próprias. É o combustível da inovação, da criação, da imaginação e do senso estético.

Nutrir essas habilidades na escola e defender uma educação menos conteudista não significa deixar de lado as competências cognitivas – interpretar, refletir, pensar abstratamente, generalizar aprendizados. Pelo contrário, elas estão intrinsecamente conectadas: pesquisas comprovam que o comportamento e socialização das crianças desde a Educação Infantil influenciam em seu desempenho acadêmico e, inclusive, sucesso profissional. De acordo com dados do Instituto Ayrton Senna e OCDE, alunos mais responsáveis e concentrados aprendem cerca de um terço a mais de matemática, em um ano letivo, do que seus colegas cujas habilidades foram menos desenvolvidas. Os resultados são semelhantes quando analisa-se Língua Portuguesa, em que alunos mais abertos e protagonistas também aprenderam cerca de um terço a mais. E, é claro, uma vez desenvolvidas, essas habilidades do século 21 vão acompanhar o jovem por toda a vida na aquisição de novos aprendizados.

“Avaliar habilidades não é problema meu”

É comum que o planejamento escolar seja estruturado em torno de objetivos de aprendizagem, normalmente organizados em uma tabela com verbos operacionais, como “interpretar informações representadas através de coordenadas cartesianas” ou “relacionar conhecimentos científicos com a preservação ou destruição do meio ambiente”. Excelente! Contudo, a necessidade de se cumprir um extenso leque de assuntos em tempo limitado acaba riscando os verbos da lista – e o foco volta para a memorização, com pouca ou nenhuma aplicação real.

Quando professores se julgam responsáveis exclusivamente pelas disciplinas que lecionam, avaliar habilidades e competências do século 21 é rapidamente descartado. Oras, um professor de química não é obrigado a ensinar sua turma a fazer uma pesquisa ou comparar situações; ele apenas propõe as atividades assumindo que os alunos saibam fazê-lo. Mas quem os ensina? A professora doutora Lenise Aparecida Martins Garcia, da Universidade de Brasília, escreveu:

“Um professor coloca nos objetivos de ensino que o aluno, após determinada aula, deve saber ‘comparar uma célula animal com uma célula vegetal’. Que faz o professor nessa aula? Explica (descreve?) como é uma célula animal e como é uma célula vegetal. Talvez faça uma tabelinha em que coloca, lado a lado, como é uma e como é a outra. Talvez estabeleça comparações. Entretanto, não considera de sua responsabilidade ensinar a comparar, não se preocupa com o desenvolvimento dessa habilidade no aluno. Está centrado no conteúdo ‘célula vegetal e animal’, saber comparar é algo que o aluno deve “trazer pronto” e se ele não souber o problema não é do professor de Ciências… Só que também não é de nenhum outro…”.

Na verdade, ela defende, o problema é de todos. Em qualquer disciplina, podem ser inseridas e avaliadas as habilidades do século 21. Inclusive, essa é uma tendência que já está inclusive nos maiores exames nacionais do país – como é o caso do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem.

Como avaliar habilidades?

Ao invés de elaborar uma prova em que os alunos precisam memorizar uma fórmula matemática, dê a fórmula e peça que ele reflita sobre como aplicá-la para atingir um objetivo. Esse é o cerne da avaliação: diagnosticar e mensurar a capacidade do aluno de colocar em prática os conteúdos que aprendeu, compreendendo os processos mentais que o guiaram para uma ou outra solução.

O Enem, desde 2009, passou a oferecer uma prova baseada em avaliar habilidades, estruturada em torno de 5 eixos:

  • Dominar linguagens,
  • Compreender fenômenos,
  • Enfrentar situações-problema,
  • Construir argumentação,
  • Elaborar propostas.

Por causa disso, um aluno que realiza a prova pode, mesmo sem ter coberto o conteúdo apresentado em aula, acertar a questão: a ideia é justamente que ele utilize as competências que possui – como análise, argumentação, discriminação – para trabalhar com quaisquer que sejam os dados oferecidos. Confira a Matriz de Referência completa do Enem aqui.

As questões do Enem são elaboradas segundo a Teoria de Resposta ao Item, assim como as do Geekie Teste, ferramenta de avaliação externa da Geekie. Isso significa que cada item orienta o educador quanto ao qual foi o raciocínio do aluno ao resolver a questão. As alternativas testam várias possibilidades e não, como se poderia imaginar, são acrescentadas aleatoriamente. Por exemplo, uma questão de Matemática e suas Tecnologias não vai simplesmente apresentar uma conta a ser resolvida, e, sim, uma situação-problema: dessa forma, o aluno que apenas decorou os passos mecanicamente, mas não desenvolveu as competências necessárias, não chegará na resposta correta – mas chegará a uma alternativa que vai indicar essa dificuldade ao seu professor, que poderá avaliar habilidades e encontrar as intervenções mais adequadas.

A partir daí, a Geekie oferece relatórios com a função de identificar lacunas de aprendizagem e reorientar práticas pedagógicas de maneira pontual (para um aluno específico) ou ampla (para toda uma escola ou rede). Os próprios alunos também recebem relatórios de prova para que compreendam seu desempenho e consigam organizar seus estudos, incentivando a autonomia e construção do conhecimento.

Quer conhecer melhor o Geekie Teste? Fale conosco: geekieteste.geekie.com.br

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